domingo, dezembro 27, 2009

As pessoas e as coisas







As pessoas são diferentes umas das outras, eu sou otimista.
São diferentes e o que há em comum é apenas o uso de um disfarce que chamamos vulgarmente de normalidade. Sou uma otimista. Acredito que todo espírito é gerado e nutrido por alguns princípios, dentre eles, o princípio, que não é um artifício, que é a origem da diferença, chamado individuação, ao qual Nietzsche vestiu o figurino de Apolo. (A perversidade do modelo consumista é fazer acreditar que Apolo pode ser fabricado em série).
A necessidade de ser normal, de ser igual, equivale à ambição de ser aprovado por alguém, ou ainda, por um grupo ou classe social. O problema é que nosso modelo de normalidade é ruim. O disfarce é feio.

O nosso modelo exalta a competição, sendo a cooperação muito mais saborosa. Quem já sentiu o gosto, sabe. É bom ter com quem comemorar a vitória e se consolar, na derrota.

E daí? Quem sente o valor, a importância, que cada pessoa ocupa em sua própria vida? Não me refiro ao valor em dinheiro (parece óbvio, mas do jeito que a coisa anda, é sempre bom avisar) e sim ao valor afetivo, que não pode ser mensurado, nem muito menos exposto, por capricho, à prova dos nove. Parece brincadeira, mas não é, isto existe: para alguns, até o afetivo está sujeito à aprovação do financeiro. As relações pessoais são pautadas, ou melhor, pré-determinadas, de acordo com a suspeita de quanto cada uma das partes tem no banco...

Na economia do afeto, o recomendado é a pessoa guardar a máximo possível. Vai sair gastando por ai? Depois, vai ficar sem nada... Você investe nas pessoas certas, porque o retorno é certo, fica em torno de 12 por cento ao ano, o que em 30 anos terá rendido 360 por cento, é mais ou menos por aí. De tanto economizar afeto...

... A solidão na velhice. Quem quer ouvir histórias de uma velha, ou de um velho? Por que justamente a vida de quem viveu tanto interessa tão pouco? Nas sociedades tradicionais da África, e daqui das Américas, os velhos eram contadores de histórias, no mínimo. A pessoa envelhecia e continuava a ter uma função social. Aqui não. Aqui, a pessoa envelhece e é posta para fora do modelo. Resta se aposentar, o que é o mesmo que perder a função social que mais interessa. Resta morrer. Quem compra esse modelo de normalidade? Quem pode e quem não pode pagar por ele (agora sim, me refiro ao dinheiro).



Um desejo? Um lugar no mundo onde as pessoas valham de um modo muito diferente do aplicado às coisas.

Um aviso? Nosso peso é em carne, osso e cabelos, não é em ouro.

Um conselho? Não imite quem você desaprova, ou seja, não se vingue.



Natal, época de dar presentes...