quarta-feira, abril 11, 2007

a invenção do pai

quem inventou o pai não sabia o que estava fazendo. ou a vontade é consciente? tem alguma finalidade, boa ou ruim?
isso porque a vontade de ter filhos, talvez a inveja do útero, transformou o ser humano, os que são, e os que não são, mulheres.
para ele, a vontade de ter filhos só poderia se tornar real se alguém cedesse os meios: óvulo, encontro, gestação, parto, primeiros cuidados...
o inventor demorou, mas concluiu que precisava de uma mulher para realizar tal intento. e foi o que fez. disse que a mulher era dele. ela acreditou, e acabou sem saber como era antes. todos se esqueceram. e se esqueceram da semente feminina. ela, também, que se viu na triste ilusão de ser um receptáculo, como a terra. esqueceu de lembrar que ela mesma, mulher, nasce com tantas sementinhas, seus óvulos. ela não é apenas nutrição e sustento, é carne, veias, sangue, e circulação na vida que se forma.
o filho, a filha, amam o pai. ele quis ter filhos. por vaidade, inveja, ou amor? pra deixar rastro, ou herança? conselhos, costumes, outros bens? maus?
quando o pai vai olhar pro filho e agradecer?
talvez, a vontade do filho é que tenha inventado, gerado, o pai.

sexta-feira, abril 06, 2007

escrever todo dia

escrever todo dia
ontem, Sophia completou dez meses. eu, mais de um mês sem escrever. Senti um aperto, o tempo, por que num escrevi?
Agora, é tarde, 2:24 a.m. Nenhum texto em março, e tão poucos antes. Por onde tenho andado? Sophia linda precisa de minha atenção, mas ela também se vira sozinha, e brinca, e dorme...
Sinto como se não quisesse me mexer, como se um movimento meu pudesse mudar tudo, num giro de caleidoscópio.
Se eu paro, sei, o resto continua, e eu, parada numa supertição de quem já viu o mundo girar e mudar trezentos e sessenta e cinco graus, numa velocidade incompreensível. Tenho medo.
cheguei a pensar que a mudança é ruim, se a vida está boa, pra quê? Se me movo, tudo se move. Penso em manter as cores do caleidoscópio, só assim. Mudar tudo, eu mundo junto, mudo. Pra onde?
Não olhar pra trás. Este que olha pra mim, de canto, sussurra, "cuidado". Ou será, ouço muito mal, e ele diz, "agora!"?
Sophia acorda, reclama peito. Escrevo com uma das mãos.
basta um passo, um dedo que se levante, e aponte pra ponta do meu nariz, "avante!".
minto muito mal, miau. essa é a verdade.
a velha e a frieza, cada ruga um sulco, sem lágrimas, com seu deus, que teria um cartão de crédito, se tivesse um pouco mais de crédito.
outra velha e a alegria da compainha, e das noites também em seu computador, sozinha, sem deus, com a lua, luz, e vento.
no mais, tem peixe que chora, tem peixe que num dá tempo.